segunda-feira, 24 de julho de 2017

Uma dinâmica sobre culpabilidade

Uma jovem mulher casada, desprezada pelo marido sempre muito ocupado com a trabalho, deixa se seduzir e vai passar a noite na casa do amante, que mora no outro lado do rio. Para voltar a sua casa, na madrugada seguinte, antes do marido regressar de viagem, ela tem de atravessar novamente a ponte. Mas um louco violento lhe impede a passagem. Tenta então encontrar um barqueiro que a passasse. Este exige pagamento imediato. Ela não tem dinheiro, explica-lhe a situação e lhe suplica. No entanto, ele se recusa a trabalhar sem ser pago adiantadamente. Vai ter com o seu amante e lhe pede dinheiro. Este recusa, sem explicações. Vai procurar então um amigo que nos arredores e que há tempos a amou, amor ao qual ela nunca correspondeu. Conta-lhe tudo e lhe pede dinheiro. Ele recusa porque ela o decepcionara com seu comportamento. Decide então, depois de uma nova e vã tentativa junto do barqueiro atravessar a ponte. O louco a mata.
        
Desafio proposto:

Qual destes seis personagens por ordem de entrada na história (mulher, marido, amante, louco, barqueiro e amigo), pode ser responsabilizado por esta morte? Classifique-os por ordem crescente de responsabilidade.

Seriados sobre Advogados, Direito e Justiça

SUITS

Suits é um seriado canadense de drama legal criado e escrito por Aaron Korsh. O seriado teve sua estreia em 23 de junho de 2011 na rede de TV a cabo CND e é produzido pela Universal Cable. Suits tem como cenário uma firma de advocacia na cidade de Nova York. A série trata da expulsão do talentoso Mike Ross (Patrick J. Adams) do colégio, que inicialmente trabalha como um advogado associado para Harvey Specter (Gabriel Macht) mesmo nunca tendo frequentado a escola de direito e foca em Harvey e Mike tendo sucesso em diversos casos enquanto mantêm o segredo de Mike.

How to Get Away With Murder


A série se desenvolve ao redor da vida pessoal e profissional de Annalise Keating, uma advogada de defesa criminal proeminente. Também professora de direito na Universidade de Middleton, na Filadélfia, Annalise seleciona cinco de seus melhores alunos para trabalharem com ela em seu escritório: Wes Gibbins, Connor Walsh, Michaela Pratt, Laurel Castillo e Asher Millstone. Em sua vida pessoal, Annalise vive com seu marido Sam Keating, um renomado psicólogo, mas também vive um relacionamento às escondidas com Nate Lahey, um detetive de polícia. Quando sua vida pessoal e profissional começa a entrar em colapso, Annalise e seus alunos se vêem envolvidos, involuntariamente, em uma trama de assassinatos.

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Better Call Saul



Better Call Saul é uma série de televisão norte-americana criada por Vince Gilligan e Peter Gould, sendo um spin-off de Breaking Bad, também criada por Gilligan. Os eventos de Better Call Saul decorrem a partir de 2002 e contam a história de um simples advogado chamado James Morgan "Jimmy" McGill (Bob Odenkirk), seis anos antes de sua aparição em Breaking Bad, mostrando sua trajetória e seus problemas antes de se tornar o infame Saul Goodman. Alguns eventos exibidos em Better Call Saul situam-se depois de Breaking Bad, embora explorados de uma forma extremamente breve.


The Good Wife


A série centra-se em Alicia Florrick (Julianna Margulies), cujo marido Peter Florrick (Chris Noth), um ex-advogado do estado de Condado de Cook, foi preso depois de um escândalo envolvendo sexo com prostitutas e corrupção. Depois de ter passado 13 anos como uma mãe atenciosa e dona-de-casa, Alicia retorna ao seu antigo trabalho como advogada e fica com a responsabilidade de criar os seus dois filhos. A série foi parcialmente inspirado no escândalo de prostituição envolvendo o ex-governador de Nova Iorque, Eliot Spitzer, bem como outros escândalos sexuais proveniente de políticos norte-americanos, particularmente os de John Edwards e Bill Clinton:


SCANDAL - Nos Bastidores do Poder



Olivia Pope, a ex-consultora de comunicações da presidência, dedica sua vida a proteger a imagem pública da elite da nação e garantir que seus segredos nunca venham à tona.

Após deixar a Casa Branca, ela abre sua própria empresa na esperança de iniciar um novo capítulo em sua vida, tanto profissional quanto pessoal. Entretanto, ela parece não conseguir cortar completamente os laços com seu passado. Aos poucos se torna evidente que sua equipe, especializada em corrigir os erros dos outros, não é tão boa assim quando se trata de consertar suas próprias vidas.


Ally McBeal




Ally McBeal (no Brasil, Ally McBeal: Minha Vida de Solteira) foi uma premiada série de televisão estadunidense, produzida pelo canal FOX e por David E. Kelley, que narra as aventuras de uma advogada (Ally McBeal) e seu desejo de encontrar um parceiro ideal para se casar e de se dar bem na vida, profissional e emocionalmente. Toda a trama se desenrola num escritorio de advogacia, em Boston, onde Ally e o resto de seus colegas excêntricos trabalham e vivem situações bastante irreais. Um destaque do seriado é sua trilha sonora composta de músicas de Vonda Shepard, principalmente, com participações de vários grandes nomes, como Barry White, Sting, Elton John, Al Green, Michael Jackson, Mariah Carey, Whitney Houston, Anastacia, Bon Jovi (atuando em muitos episódios), Tina Turner, Barry Manilow, entre outros.


Pai contra mãe, de Machado de Assis

PAI CONTRA MÃE

       
       A abolição da escravidão extinguiu profissões e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Sem o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede de álcool, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
    O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.
   Há meio século, os escravos fugiam com freqüência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando.
    Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: “gratificar-se-á generosamente”, — ou “receberá uma boa gratificação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse.
    Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à desordem.
    Cândido Neves, — em família, Candinho, — é a pessoa a quem se liga a história de uma fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um defeito grave esse homem, não agüentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; é o que ele chamava caiporismo. Começou por querer aprender tipografia, mas viu cedo que era preciso algum tempo para compor bem, e ainda assim talvez não ganhasse o bastante; foi o que ele disse a si mesmo. O comércio chamou-lhe a atenção, era carreira boa. Com algum esforço entrou de caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas estava na rua por sua vontade. Fiel de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao Ministério do Império, carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de obtidos.
    Quando veio a paixão da moça Clara, não tinha ele mais que dívidas, ainda que poucas, porque morava com um primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas para obter emprego, resolveu adotar o ofício do primo, de que aliás já tomara algumas lições. Não lhe custou apanhar outras, mas, querendo aprender depressa, aprendeu mal. Não fazia obras finas nem complicadas, apenas garras para sofás e relevos comuns para cadeiras. Queria ter em que trabalhar quando casasse, e o casamento não se demorou muito.
    Contava trinta anos. Clara vinte e dois. Ela era órfã, morava com uma tia, Mônica, e cosia com ela. Não cosia tanto que não namorasse o seu pouco, mas os namorados apenas queriam matar o tempo; não tinham outro empenho. Passavam às tardes, olhavam muito para ela, ela para eles, até que a noite a fazia recolher para a costura. O que ela notava é que nenhum deles lhe deixava saudades nem lhe acendia desejos. Talvez nem soubesse o nome de muitos. Queria casar, naturalmente. Era, como lhe dizia a tia, um pescar de caniço, a ver se o peixe pegava, mas o peixe passava de longe; algum que parasse, era só para andar à roda da isca, mirá-la, cheirá-la, deixá-la e ir a outras.

    O amor traz sobrescritos. Quando a moça viu Cândido Neves, sentiu que era este o possível marido, o marido verdadeiro e único. O encontro deu-se em um baile; tal foi — para lembrar o primeiro ofício do namorado, — tal foi a página inicial daquele livro, que tinha de sair mal composto e pior brochado. O casamento fez-se onze meses depois, e foi a mais bela festa das relações dos noivos. Amigas de Clara, menos por amizade que por inveja, tentaram arredá-la do passo que ia dar. Não negavam a gentileza do noivo, nem o amor que lhe tinha, nem ainda algumas virtudes; diziam que era dado em demasia a patuscadas.
 — Pois ainda bem, replicava a noiva; ao menos, não caso com defunto.
— Não, defunto não; mas é que...
    Não diziam o que era. Tia Mônica, depois do casamento, na casa pobre onde eles se foram abrigar, falou-lhes uma vez nos filhos possíveis. Eles queriam um, um só, embora viesse agravar a necessidade.
 — Vocês, se tiverem um filho, morrem de fome, disse a tia à sobrinha.
 — Nossa Senhora nos dará de comer, acudiu Clara.
    Tia Mônica devia ter-lhes feito a advertência, ou ameaça, quando ele lhe foi pedir a mão da moça; mas também ela era amiga de patuscadas, e o casamento seria uma festa, como foi.
    A alegria era comum aos três. O casal ria a propósito de tudo. Os mesmos nomes eram objeto de trocados, Clara, Neves, Cândido; não davam que comer, mas davam que rir, e o riso digeria-se sem esforço. Ela cosia agora mais, ele saía a empreitadas de uma coisa e outra; não tinha emprego certo.
    Nem por isso abriam mão do filho. O filho é que, não sabendo daquele desejo específico, deixava-se estar escondido na eternidade. Um dia, porém, deu sinal de si a criança; varão ou fêmea, era o fruto abençoado que viria trazer ao casal a suspirada ventura. Tia Mônica ficou desorientada, Cândido e Clara riram dos seus sustos.
 — Deus nos há de ajudar, titia, insistia a futura mãe.
    A notícia correu de vizinha a vizinha. Não houve mais que espreitar a aurora do dia grande. A esposa trabalhava agora com mais vontade, e assim era preciso, uma vez que, além das costuras pagas, tinha de ir fazendo com retalhos o enxoval da criança. À força de pensar nela, vivia já com ela, media-lhe fraldas, cosia-lhe camisas. A porção era escassa, os intervalos longos. Tia Mônica ajudava, é certo, ainda que de má vontade.
 — Vocês verão a triste vida, suspirava ela.
 — Mas as outras crianças não nascem também? perguntou Clara.
 — Nascem, e acham sempre alguma coisa certa que comer, ainda que pouco...
 — Certa como?
 — Certa, um emprego, um ofício, uma ocupação, mas em que é que o pai dessa infeliz criatura que aí vem gasta o tempo?
    Cândido Neves, logo que soube daquela advertência, foi ter com a tia, não áspero, mas muito menos manso que de costume, e lhe perguntou se já algum dia deixara de comer.
 — A senhora ainda não jejuou senão pela semana santa, e isso mesmo quando não quer jantar comigo. Nunca deixamos de ter o nosso bacalhau...
 — Bem sei, mas somos três.
 — Seremos quatro.
 — Não é a mesma coisa.
 — Que quer então que eu faça, além do que faço?
 — Alguma coisa mais certa. Veja o marceneiro da esquina, o homem do armarinho, o tipógrafo que casou sábado, todos têm um emprego certo... Não fique zangado; não digo que você seja vadio, mas a ocupação que escolheu é vaga. Você passa semanas sem vintém.
 — Sim, mas lá vem uma noite que compensa tudo, até de sobra. Deus não me abandona, e preto fugido sabe que comigo não brinca; quase nenhum resiste, muitos entregam-se logo.
    Tinha glória nisto, falava da esperança como de capital seguro. Daí a pouco ria, e fazia rir à tia, que era naturalmente alegre, e previa uma patuscada no batizado.
    Cândido Neves perdera já o ofício de entalhador, como abrira mão de outros muitos, melhores ou piores. Pegar escravos fugidos trouxe-lhe um encanto novo. Não obrigava a estar longas horas sentado. Só exigia força, olho vivo, paciência, coragem e um pedaço de corda. Cândido Neves lia os anúncios, copiava-os, metia-os no bolso e saía às pesquisas. Tinha boa memória. Fixados os sinais e os costumes de um escravo fugido, gastava pouco tempo em achá-lo, segurá-lo, amarrá-lo e levá-lo. A força era muita, a agilidade também. Mais de uma vez, a uma esquina, conversando de coisas remotas, via passar um escravo como os outros, e descobria logo que ia fugido, quem era, o nome, o dono, a casa deste e a gratificação; interrompia a conversa e ia atrás do vicioso. Não o apanhava logo, espreitava lugar azado, e de um salto tinha a gratificação nas mãos. Nem sempre saía sem sangue, as unhas e os dentes do outro trabalhavam, mas geralmente ele os vencia sem o menor arranhão.
    Um dia os lucros entraram a escassear. Os escravos fugidos não vinham já, como dantes, meter-se nas mãos de Cândido Neves. Havia mãos novas e hábeis. Como o negócio crescesse, mais de um desempregado pegou em si e numa corda, foi aos jornais, copiou anúncios e deitou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de um competidor. Quer dizer que as dívidas de Cândido Neves começaram de subir, sem aqueles pagamentos prontos ou quase prontos dos primeiros tempos. A vida fez-se difícil e dura. Comia-se fiado e mal; comia-se tarde. O senhorio mandava pelo aluguéis.
    Clara não tinha sequer tempo de remendar a roupa ao marido, tanta era a necessidade de coser para fora. Tia Mônica ajudava a sobrinha, naturalmente. Quando ele chegava à tarde, via-se-lhe pela cara que não trazia vintém. Jantava e saía outra vez, à cata de algum fugido. Já lhe sucedia, ainda que raro, enganar-se de pessoa, e pegar em escravo fiel que ia a serviço de seu senhor; tal era a cegueira da necessidade. Certa vez capturou um preto livre; desfez-se em desculpas, mas recebeu grande soma de murros que lhe deram os parentes do homem.
 — É o que lhe faltava! exclamou a tia Mônica, ao vê-lo entrar, e depois de ouvir narrar o equívoco e suas conseqüências. Deixe-se disso, Candinho; procure outra vida, outro emprego.
    Cândido quisera efetivamente fazer outra coisa, não pela razão do conselho, mas por simples gosto de trocar de ofício; seria um modo de mudar de pele ou de pessoa. O pior é que não achava à mão negócio que aprendesse depressa.
    A natureza ia andando, o feto crescia, até fazer-se pesado à mãe, antes de nascer. Chegou o oitavo mês, mês de angústias e necessidades, menos ainda que o nono, cuja narração dispenso também. Melhor é dizer somente os seus efeitos. Não podiam ser mais amargos.
 — Não, tia Mônica! bradou Candinho, recusando um conselho que me custa escrever, quanto mais ao pai ouvi-lo. Isso nunca!
    Foi na última semana do derradeiro mês que a tia Mônica deu ao casal o conselho de levar a criança que nascesse à Roda dos enjeitados. Em verdade, não podia haver palavra mais dura de tolerar a dois jovens pais que espreitavam a criança, para beijá-la, guardá-la, vê-la rir, crescer, engordar, pular... Enjeitar quê? enjeitar como? Candinho arregalou os olhos para a tia, e acabou dando um murro na mesa de jantar. A mesa, que era velha e desconjuntada, esteve quase a se desfazer inteiramente. Clara interveio.
 — Titia não fala por mal, Candinho.
 — Por mal? replicou tia Mônica. Por mal ou por bem, seja o que for, digo que é o melhor que vocês podem fazer. Vocês devem tudo; a carne e o feijão vão faltando. Se não aparecer algum dinheiro, como é que a família há de aumentar? E depois, há tempo; mais tarde, quando o senhor tiver a vida mais segura, os filhos que vierem serão recebidos com o mesmo cuidado que este ou maior. Este será bem criado, sem lhe faltar nada. Pois então a Roda é alguma praia ou monturo? Lá não se mata ninguém, ninguém morre à toa, enquanto que aqui é certo morrer, se viver à míngua. Enfim...
 Tia Mônica terminou a frase com um gesto de ombros, deu as costas e foi meter-se na alcova. Tinha já insinuado aquela solução, mas era a primeira vez que o fazia com tal franqueza e calor, — crueldade, se preferes. Clara estendeu a mão ao marido, como a amparar-lhe o ânimo; Cândido Neves fez uma careta, e chamou maluca à tia, em voz baixa. A ternura dos dois foi interrompida por alguém que batia à porta da rua.
 — Quem é? perguntou o marido.
 — Sou eu.
    Era o dono da casa, credor de três meses de aluguel, que vinha em pessoa ameaçar o inquilino. Este quis que ele entrasse.
 — Não é preciso...
 — Faça favor.
    O credor entrou e recusou sentar-se; deitou os olhos à mobília para ver se daria algo à penhora; achou que pouco. Vinha receber os aluguéis vencidos, não podia esperar mais; se dentro de cinco dias não fosse pago, pô-lo-ia na rua. Não havia trabalhado para regalo dos outros. Ao vê-lo, ninguém diria que era proprietário; mas a palavra supria o que faltava ao gesto, e o pobre Cândido Neves preferiu calar a retorquir. Fez uma inclinação de promessa e súplica ao mesmo tempo. O dono da casa não cedeu mais.
 — Cinco dias ou rua! repetiu, metendo a mão no ferrolho da porta e saindo.
    Candinho saiu por outro lado. Nesses lances não chegava nunca ao desespero, contava com algum empréstimo, não sabia como nem onde, mas contava. Demais, recorreu aos anúncios. Achou vários, alguns já velhos, mas em vão os buscava desde muito. Gastou algumas horas sem proveito, e tornou para casa. Ao fim de quatro dias, não achou recursos; lançou mão de empenhos, foi a pessoas amigas do proprietário, não alcançando mais que a ordem de mudança.
    A situação era aguda. Não achavam casa, nem contavam com pessoa que lhes emprestasse alguma; era ir para a rua. Não contavam com a tia. Tia Mônica teve arte de alcançar aposento para os três em casa de uma senhora velha e rica, que lhe prometeu emprestar os quartos baixos da casa, ao fundo da cocheira, para os lados de um pátio. Teve ainda a arte maior de não dizer nada aos dois, para que Cândido Neves, no desespero da crise, começasse por enjeitar o filho e acabasse alcançando algum meio seguro e regular de obter dinheiro; emendar a vida, em suma. Ouvia as queixas de Clara, sem as repetir, é certo, mas sem as consolar. No dia em que fossem obrigados a deixar a casa, fá-los-ia espantar com a notícia do obséquio e iriam dormir melhor do que cuidassem.
    Assim sucedeu. Postos fora da casa, passaram ao aposento de favor, e dois dias depois nasceu a criança. A alegria do pai foi enorme, e a tristeza também. Tia Mônica insistiu em dar a criança à Roda. “Se você não a quer levar, deixe isso comigo; eu vou à Rua dos Barbonos.” Cândido Neves pediu que não, que esperasse, que ele mesmo a levaria. Notai que era um menino, e que ambos os pais desejavam justamente este sexo. Mal lhe deram algum leite; mas, como chovesse à noite, assentou o pai levá-lo à Roda na noite seguinte.
    Naquela reviu todas as suas notas de escravos fugidos. As gratificações pela maior parte eram promessas; algumas traziam a soma escrita e escassa. Uma, porém, subia a cem mil-réis. Tratava-se de uma mulata; vinham indicações de gesto e de vestido. Cândido Neves andara a pesquisá-la sem melhor fortuna, e abrira mão do negócio; imaginou que algum amante da escrava a houvesse recolhido. Agora, porém, a vista nova da quantia e a necessidade dela animaram Cândido Neves a fazer um grande esforço derradeiro. Saiu de manhã a ver e indagar pela Rua e Largo da Carioca, Rua do Parto e da Ajuda, onde ela parecia andar, segundo o anúncio. Não a achou; apenas um farmacêutico da Rua da Ajuda se lembrava de ter vendido uma onça de qualquer droga, três dias antes, à pessoa que tinha os sinais indicados. Cândido Neves parecia falar como dono da escrava, e agradeceu cortesmente a notícia. Não foi mais feliz com outros fugidos de gratificação incerta ou barata.
    Voltou para a triste casa que lhe haviam emprestado. Tia Mônica arranjara de si mesma a dieta para a recente mãe, e tinha já o menino para ser levado à Roda. O pai, não obstante o acordo feito, mal pôde esconder a dor do espetáculo. Não quis comer o que tia Mônica lhe guardara; não tinha fome, disse, e era verdade. Cogitou mil modos de ficar com o filho; nenhum prestava. Não podia esquecer o próprio albergue em que vivia. Consultou a mulher, que se mostrou resignada. Tia Mônica pintara-lhe a criação do menino; seria maior a miséria, podendo suceder que o filho achasse a morte sem recurso. Cândido Neves foi obrigado a cumprir a promessa; pediu à mulher que desse ao filho o resto do leite que ele beberia da mãe. Assim se fez; o pequeno adormeceu, o pai pegou dele, e saiu na direção da Rua dos Barbonos.
    Que pensasse mais de uma vez em voltar para casa com ele, é certo; não menos certo é que o agasalhava muito, que o beijava, que lhe cobria o rosto para preservá-lo do sereno. Ao entrar na Rua da Guarda Velha, Cândido Neves começou a afrouxar o passo.
 — Hei de entregá-lo o mais tarde que puder, murmurou ele.
    Mas não sendo a rua infinita ou sequer longa, viria a acabá-la; foi então que lhe ocorreu entrar por um dos becos que ligavam aquela à Rua da Ajuda. Chegou ao fim do beco e, indo a dobrar à direita, na direção do Largo da Ajuda, viu do lado oposto um vulto de mulher; era a mulata fugida. Não dou aqui a comoção de Cândido Neves por não podê-lo fazer com a intensidade real. Um adjetivo basta; digamos enorme. Descendo a mulher, desceu ele também; a poucos passos estava a farmácia onde obtivera a informação, que referi acima. Entrou, achou o farmacêutico, pediu-lhe a fineza de guardar a criança por um instante; viria buscá-la sem falta.
 — Mas...
    Cândido Neves não lhe deu tempo de dizer nada; saiu rápido, atravessou a rua, até ao ponto em que pudesse pegar a mulher sem dar alarma. No extremo da rua, quando ela ia a descer a de S. José, Cândido Neves aproximou-se dela. Era a mesma, era a mulata fujona.
 — Arminda! bradou, conforme a nomeava o anúncio.
    Arminda voltou-se sem cuidar malícia. Foi só quando ele, tendo tirado o pedaço de corda da algibeira, pegou dos braços da escrava, que ela compreendeu e quis fugir. Era já impossível. Cândido Neves, com as mãos robustas, atava-lhe os pulsos e dizia que andasse. A escrava quis gritar, parece que chegou a soltar alguma voz mais alta que de costume, mas entendeu logo que ninguém viria libertá-la, ao contrário. Pediu então que a soltasse pelo amor de Deus.
 — Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!
 — Siga! repetiu Cândido Neves.
 — Me solte!
 — Não quero demoras; siga!
    Houve aqui luta, porque a escrava, gemendo, arrastava-se a si e ao filho. Quem passava ou estava à porta de uma loja, compreendia o que era e naturalmente não acudia. Arminda ia alegando que o senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoites, — coisa que, no estado em que ela estava, seria pior de sentir. Com certeza, ele lhe mandaria dar açoites.
— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? perguntou Cândido Neves.
    Não estava em maré de riso, por causa do filho que lá ficara na farmácia, à espera dele. Também é certo que não costumava dizer grandes coisas. Foi arrastando a escrava pela Rua dos Ourives, em direção à da Alfândega, onde residia o senhor. Na esquina desta a luta cresceu; a escrava pôs os pés à parede, recuou com grande esforço, inutilmente. O que alcançou foi, apesar de ser a casa próxima, gastar mais tempo em lá chegar do que devera. Chegou, enfim, arrastada, desesperada, arquejando. Ainda ali ajoelhou-se, mas em vão. O senhor estava em casa, acudiu ao chamado e ao rumor.
 — Aqui está a fujona, disse Cândido Neves.
 — É ela mesma.
 — Meu senhor!
 — Anda, entra...
    Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da escrava abriu a carteira e tirou os cem mil-réis de gratificação. Cândido Neves guardou as duas notas de cinqüenta mil-réis, enquanto o senhor novamente dizia à escrava que entrasse. No chão, onde jazia, levada do medo e da dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou.
    O fruto de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da mãe e os gestos de desespero do dono. Cândido Neves viu todo esse espetáculo. Não sabia que horas eram. Quaisquer que fossem, urgia correr à Rua da Ajuda, e foi o que ele fez sem querer conhecer as conseqüências do desastre.
    Quando lá chegou, viu o farmacêutico sozinho, sem o filho que lhe entregara. Quis esganá-lo. Felizmente, o farmacêutico explicou tudo a tempo; o menino estava lá dentro com a família, e ambos entraram. O pai recebeu o filho com a mesma fúria com que pegara a escrava fujona de há pouco, fúria diversa, naturalmente, fúria de amor. Agradeceu depressa e mal, e saiu às carreiras, não para a Roda dos enjeitados, mas para a casa de empréstimo com o filho e os cem mil-réis de gratificação. Tia Mônica, ouvida a explicação, perdoou a volta do pequeno, uma vez que trazia os cem mil-réis. Disse, é verdade, algumas palavras duras contra a escrava, por causa do aborto, além da fuga. Cândido Neves, beijando o filho, entre lágrimas, verdadeiras, abençoava a fuga e não se lhe dava do aborto.
 — Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.

domingo, 23 de julho de 2017

Frases de pensadores sobre justiça, juiz, advogado, lei, conselho e experiências

Advocacia é a maneira legal 
de burlar a justiça. 
(Autor desconhecido)

O bom do Juízo Final 
é que será sem advogados. 
(Sofocleto)

Um júri é composto de doze pessoas escolhidas 
para decidir quem tem o melhor advogado. 
(Robert Frost, J. Garland Pollard)

Alguns juízes são absolutamente incorruptíveis. 
Ninguém consegue induzi-los a fazer justiça. 
(Bertolt Brecht)

Infeliz a geração cujos juízes merecem ser julgados. 
(Talmud)

Não litigues contra um juiz, porque decidirão a favor dele.
(Eclesiástico, 8,14)

Não é fácil julgar contra os próprios interesses. 
(Balmes)

O juízo dos homens é inexorável em relação aos outros, 
sobre a ação que cada um deles está pronto a praticar.

O mundo não nos julga pelo que somos, 
mas pelo que parecemos ser. 
(A. Delpit)

Para os amigos, tudo. Para os indiferentes, a lei. 
Para os inimigos, a justiça morosa e corrupta.

É melhor escolher os culpados do que procurá-los. 
(Marcel Pagnol)

O mais corrupto dos Estados tem o maior número de leis. 
(Tácito)

Quanto mais corrompido o Estado, mais leis. 
(Tácito)

Quanto mais leis, mais ladrões. 
(Provérbio chinês)

Leis existem para dificultar certas coisas, 
e a propina para facilitá-las.

Uma coisa é estar dentro da lei, outra é estar sob a lei. 
Os que estão dentro da lei são livres, os outros são escravos. 
(S. Agostinho)

Se a população soubesse como são feitas as leis e as salsichas, 
ninguém mais dormiria sossegado. (Bismarck)

As leis, quando violadas, não gritam. 
(Talleyrand)

A lei é como uma cerca: quando é forte, a gente passa por baixo; 
quando é fraca, a gente passa por cima. 
(Heráclito)

Faça agora. Amanhã pode aparecer uma lei proibindo. 
(Lawrence J. Peter)

Por que cometer erros antigos, 
se há tantos erros novos a escolher? 
(Bertrand Russell)

O pior dos erros é acertar sozinho contra muita gente. 
(Agripino Grieco)

Os fracos preferem acusar os acontecimentos 
a reconhecer os seus erros.

Não se deve ter vergonha de reconhecer um erro, 
pois assim se demonstra ser mais sábio hoje do que ontem. 
(Jonathan Swift)

Admita seus erros antes que alguém os exagere.
(Andrew V. Mason)

Não existe maneira certa de fazer uma coisa errada. 
(Kenneth Blanchard)

Errar é humano. Botar a culpa nos outros, também. 
(Millôr Fernandes)

Estou aprendendo tanto com meus erros, 
que estou pensando em cometer mais alguns.
 (Ashleigh Brilliant)

Aprenda com os erros dos seus pais: 
use o controle da natalidade.

Aprenda com os erros dos outros. 
Assim você pode cometê-los todos. 
(Herbert Goldberg)

Um erro econômico antigo só pode s
er corrigido com dois erros econômicos novos.

Aquele que tentou e não conseguiu é superior 
àquele que nada tentou. 
(Bud Wilkinson)

Experiência é algo maravilhoso. 
Permite reconhecer um erro cada vez que o cometemos.
 (Franklin P. Jones)

Experiência é algo que você não obtém até precisar dela. 
(Steven Wright)

Experiência é um bilhete de loteria comprado depois do sorteio.
(Gabriela Mistral)

Experiência é um professor implacável. Primeiro ele dá o teste, depois a lição.

Bom senso é o que há de mais bem distribuído no mundo, 
pois cada um pensa estar bem provido dele.
 (René Descartes)

Se fôssemos confiar apenas no bom senso, 
o mundo ainda seria plano.
 (Claire de Lamirande)

O bom senso nunca terá heróis.
 (Armand Salacrou)

Nada é tão perigoso como o bom conselho 
acompanhado de um mau exemplo. 
(Mme. de Sablé)

Apraz aos velhos dar bons conselhos, como consolo 
por já não estarem em condição de dar maus exemplos.

Quem pede conselhos quer aprovação. 
(G.C. Colton)

Conselho de raposa, morte de galinhas.

Se queremos abolir a pena de morte, 
que os assassinos tomem a iniciativa. 
(Alphonse Karr)

Os homens não são enforcados porque roubaram cavalos, 
mas para que cavalos não sejam mais roubados. 
(G. Saville)

Abuso é um direito exercido por outrem. 
(Pierre la Mazière)

Presume-se que um homem é culpado, 
até ele provar que é influente. 
(Lawrence J. Peter)

Acordo é uma combinação em que um cede, fingindo que não sabe.

Mais vale um mau acordo que uma boa demanda.

Os provérbios são particularmente úteis nos casos em que 
não temos nada que nos justifique.
 (Pouchkine)

Um provérbio chinês recomenda: quando você não tem nada para dizer, 
diga um provérbio chinês.

Não gosto dos provérbios, pois são arreios para qualquer cavalo.
 Não há um que não tenha o seu contrário, e qualquer conduta que se tenha, 
há um para apoiá-la. 
(Alfred de Musset)



FONTE

Do livro: O melhor do mau humor, de Ruy Castro

ADVOCACIA



Fiz tão bem o meu curso de Direito que, no dia seguinte 
em que me formei, processei a 
Faculdade, ganhei a causa e recuperei 
todas as mensalidades que havia pago
FRED ALLEN

Um júri é um grupo de doze pessoas escolhidas 
para decidir quem tem o melhor advogado.
ROBERT FROST

Só fui a falência duas vezes. A primeira quando perdi uma causa; 
a segunda, quando a ganhei.
VOLTAIRE

A trilogia das cores: analisando sagas


Ensaio crítico sobre a trilogia das cores de Krzysztof Kieslowski. AQUI.

Não matarás, de Krzysztof Kieslowski



Não matarás ou A short film about killing (1988)

"Krótki film o zabijaniu (Um pequeno filme sobre a morte, e no Brasil com o título de Não Matarás) é uma produção que foi construída em cima da base do quinto episódio da série Decalogue, dirigida por Krzysztof Kieslowski e que por motivos legais não encontrou nenhuma rede de televisão nos Estados Unidos.

Premiado com o troféu do júri em Cannes, o diretor polonês traz ao espectador três histórias paralelas que se cruzam quando a morte entra na vida de três homens muito diferentes.

Waldemar (Jan Tesarz) é um taxista que busca lucrar ao máximo com sua profissão. Piotr (Krzysztof Globisz) acabou de ganhar o diploma que lhe dá o direito de exercer a advocacia. Jacek (Miroslaw Baka) é um jovem sem rumo que acabou de chegar na grande Varsóvia. Certo dia, Jacek mata Waldemar, rouba seu táxi e tenta sair com uma linda moça, que logo desconfia sobre a forma com que seu amigo arranjou o veículo.

O corte desta cena nos leva diretamente para uma nova situação: Jacek recebe a pena de morte por enforcamento e Piotr vira seu advogado de defesa. Se sentindo culpado por não ter conseguido livrar seu cliente, o recém diplomado cria um vínculo de amizade com o condenado horas antes de cumprir sua pena. É aqui que temos o clímax do filme. Jacek abre seu coração e revela sobre seu passado, onde logo descobrimos que uma morte mudou totalmente sua concepção de vida: após perder sua irmã em um acidente de trator, quando esta foi atropelada por um amigo bêbado, Jacek virou um homem sem rumo. Não que isto explique o motivo dele ter assassinado Waldemar, nas fica muito claro que desde aquele episódio ele passou a tratar a morte como um evento normal, que acontece a todos. Ele parece não temer a morte até a hora em que sua sentença é lida e ele é executado.

Kieslowski oferece a seu espectador um filme muito escuro. A fotografia coordenada por Sławomir Idziak apresenta filtros verdes (experimentais e feitos a mão), que somente são removidos após a morte de Jacek, mostrando algo como a libertação de uma alma suja e contaminada por maus exemplos.

Um filme forte (com uma brutal cena de assassinato), tocante e muito inteligente. Através de um roteiro curto e muito coeso, Krzysztof coloca o espectador como juiz na cena final e deixa nas entrelinhas a grande questão: será que a pena de morte é a real solução para todos os problemas?"(Por Waldemar Dalenogare Neto) FONTE


A trilogia das cores, de Krzysztof Kieslowski





"Relendo a lista dos filmes que o blog se propõe a abordar, me deparei com a Trilogia das Cores (“A liberdade é azul”, “A igualdade é branca” e a “A fraternidade é vermelha”), do polonês Krzysztof Kieslowski, e pensei que precisava ter aqueles filmes em casa. Comprei o box semana passada.

As três cores são uma referência à bandeira francesa e o projeto surgiu em 1989, em comemoração ao bicentenário da Revolução Francesa. Quando se pensa numa trilogia inspirada em tal marco histórico, alguns logo imaginam que os filmes abordam as grandes questões da revolução, sob o ponto de vista coletivo. Porém, Kieslowski optou por tratá-las sob a perspectiva do indivíduo, mostrando como são utópicas as idéias de liberdade, igualdade e fraternidade nos dias de hoje.

O primeiro filme conta a história de Julie (Juliette Binoche), que perdeu o marido e a filha num acidente de carro e faz de tudo para tentar libertar-se do passado.

O segundo é sobre a vingança de um marido abandonado pela mulher e o terceiro sobre a relação de uma modelo com um juiz.

Originalmente, os filmes não carregam as palavras liberdade, igualdade e fraternidade, como bem observou a estudiosa da obra de Kieslowski, Andrea França, nos extras dos DVDs. Eles são simplesmente “Trois couleurs: bleu”, “Trois couleurs: blanc” e “Trois couleurs: rouge”. A explicação, para ela, é simples: os três conceitos são abordados nos três filmes. Nos extras, é possível encontrar também uma entrevista com o diretor e algumas considerações que faz sobre determinadas cenas. Nos de “Bleu”, ele explica detalhadamente a cena em que Julie está num café e há um close de cinco segundos e meio em que ela mergulha um torrão de açúcar num cafezinho: “Quis mostrar o universo da personagem, o quanto nada que a cerca a interessa”. Kieslowski, logo depois do lançamento de “A fraternidade…”, anunciou que se aposentaria e morreu dois anos depois, precocemente, em 1996."

Texto extraído do do blog O clube do livro, da autoria de Adriana Barsotti e Nathalia Jordão


sexta-feira, 21 de julho de 2017

Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo


Encerrando curso de férias A representação da Justiça e do Direito nas artes narrativas. Clique os alunos da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Agradeço a querida Clarice Assalin pela recomendação e ter propiciado este encontro e me fazer voltar perspectivas e estudos para este campo que sempre tangenciei sem aprofundar. Foi apenas uma semana, com aulas diárias de três horas, mas tempo suficiente para gostar deste encontro com futuros profissionais do Direito. Discutir filmes clássicos e contemporâneos, além de ler contos e discutir Kafka, Camus, Machado e Luís Francisco Carvalho Filho na melhor companhia numa cidade que amo foi realmente uma ótima experiência. Meu abraço a todos. 

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Documentário de cinema sobre Direito




justiça
2004 ‧ Documentário ‧ 1h 40m

O dia-a-dia do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e seus personagens, promotores, defensores públicos, juízes e réus, oferece ao público uma reflexão sobre o sistema judicial brasileiro e as estruturas de poder vigentes no país.
Data: 25 de janeiro de 2004
Direção: Maria Ramos





JUÍZO - o maior exige do menor
2007 ‧ Documentário ‧ 1h40m
A trajetória de jovens pobres com menos de 18 anos de idade diante da lei, entre o instante da prisão e o do julgamento por roubo, tráfico, homicídio.
Data de lançamento: 14 de março de 2008 (Rio de Janeiro)
Direção: Maria Ramos






Os advogados contra a Ditadura: por uma questão de Justiça
2010 - Documentário 2h10m
Com a instauração da ditadura militar através de um golpe das Forças Armadas do Brasil, no período entre 1964 e 1985, o papel dos advogados na defesa dos direitos e garantias dos cidadãos foi fundamental no confronto com a repressão, ameaças e todo tipo de restrições. "Os Advogados contra a Ditadura" propõe uma profunda reflexão sobra a época em questão, relembrando, através de depoimentos e registros de arquivos, a relevante e ativa participação dos advogados contra as imposições do autoritarismo e na luta pela liberdade. Dirigido por Silvio Tendler, o filme faz parte do Projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia
Direção: Silvio Tendler





Sobral – O homem que não tinha preço
2013 ‧ Documentário ‧ 1h 27m
O filme resgata a memória do jurista Heráclito Fontoura Sobral Pinto, um dos grandes defensores da democracia e dos direitos humanos, e um homem de ética inabalável.
Data de lançamento: 11 de outubro de 2013 (Brasil)
Direção: Paula Fiúza






Sem Pena*
12 (Brazil) 2014 ‧ Filme policial/Drama ‧ 1h 29m
A população carcerária brasileira é uma das maiores do mundo e só aumenta. O filme investiga a precária vida nas prisões do país e os medos, preconceitos e equívocos que assombram o tema.
Data de lançamento: 2 de outubro de 2014 (Brasil)
Direção: Eugenio Puppo

O documentário "Sem Pena" apresenta e discute o sistema de justiça criminal brasileiro, mostra os conflitos decorrentes do processo penal na vida familiar e social de pessoas acusadas de crimes e discute a política criminal seletiva e o encarceramento abusivo que contribuem para o aumento da violência, acentuando o ciclo “cadeia‐rua‐cadeia”.

A partir de depoimentos de pessoas que foram presas ou processadas e também de especialistas, os temas abordados no documentário são a falta de acesso à justiça, entraves na execução das penas privativas de liberdade, as dificuldades enfrentadas pelo egresso, a ausência de infraestrutura na prisão, o fortalecimento do crime organizado dentro e fora das prisões e as frequentes violações aos direitos humanos.

“O documentário pretende propor uma reflexão sobre a importância de se construir uma sociedade mais justa e tolerante, na contramão do discurso punitivo, e ainda chamar a atenção para o fato de que a justiça só se realiza quando se garante ao acusado a oportunidade de se defender em toda a sua plenitude”.

* Observação: Documentário apresentado a mim pelo coordenador de graduação o Prof. Marcelo Koch.

Dia 5: 21.07.2017

Cinema documental e Direito: análise da representação em Justiça (2004) e Juízo (2007), da cineastra Maria Augusta Ramos. O advogado como centro: "Sobral Pinto: o homem que não tinha preço" (2013), de Paula Fiúza. "Os advogados contra a ditadura: por uma questão de Justiça" (2010), de Sílvio Tendler; (projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça).

O herói das mil faces, de Joseph Campbell


Completo AQUI.

Dia 4: 19.07.2017

Leitura de Contos filosóficos do mundo inteiro, de Jean-Claude Carrière.

Explicação sobre "As 36 situações dramáticas de Polti", O herói de mil faces, de Joseph Campbell e a Jornada do herói (Monomito) e seu emprego na composição de filmes sobre advogados e tribunais. 

Apresentação/Reflexão sobre os filmes: O cliente, A firma, O sol é para todos, de Robert Mulligan; A separação e O passado, de Asghar Farhadi; Oreanna, de David Mamet, As bruxas de Salem (Crucible), de Arthur Miller/Nicholas Hytner;  Testemunha de Acusação, Billy Wilder; a trilogia das cores de Kieslowski (A liberdade é azul, A igualdade é branca e A fraternidade é vermelha) e Não matarás. Tropa de elite 2, de José Padilha.

O cinema ficcional e o Direito: o sentido ético do Direito na obra de Krzysztof Kieslowski, estudo de cenas de "Não matarás" e de "A fraternidade é vermelha". A testemunha como incógnita: "Rashomon", de Akira Kurosawa. O fascínio do cinema pelo universo da Justiça e do Direito em filmes e seriados norteamericanos da contemporaneidade. 

Filmes de tribunal ou sobre o universo do Direito

JOHN GRISHAM

John Ray Grisham Jr. é um escritor estadunidense. É o sexto escritor mais lido nos Estados Unidos da América, segundo a Publishers Weekly. É ex-político e advogado aposentado. Seus livros giram sempre em torno de questões de advocacia, e geralmente criticam nuances do sistema judiciário americano e das grandes firmas de direito. Desde maio de 1998 a Universidade do Estado do Mississippi possui uma sala de leitura com o seu nome. Em 2006 figurou na Top 100 Celebrites da revista Forbes. Vive com sua esposa, Renée e suas duas crianças Ty e Shea. É o sexto escritor com mais livros vendidos na década de 2000, segundo a Nielsen BookScan.

Principais obras

Tempo de matar (A Time to Kill, 1989)
A Firma (The Firm, 1991)
O Dossiê pelicano (The Pelican Brief, 1992)
O Cliente (The Client, 1993)
O Homem que Fazia Chover (The Rainmaker, 1995)
O Júri (The Runaway Jury, 1996)
O Sócio (The Partner, 1997)
O Advogado (The Street Lawyer, 1998)
O Rei das Fraudes (The King of Torts, 2003)
O Negociador (The Associate, 2009)


FILMES


A Firma
1993 ‧ Thriller/Drama ‧ 2h 34m



Um jovem advogado começa a trabalhar em um renomado escritório, mas descobre que a maioria dos clientes está do lado errado da lei. A empresa ajuda a esconder dinheiro de mafiosos, retira acusações de clientes culpados e mata quem ameaça os expor. Mas quando o FBI começa a reunir provas contra os colegas do advogado, ele fica em uma situação difícil.
Data: 30 de junho de 1993 (EUA)
Direção: Sydney Pollack




O dossiê pelicano
1993 ‧ Mistério/Filme policial ‧ 2h 21m
Thriller sobre uma jovem estudante de direito cuja investigação sobre o assassinato de duas autoridades da Suprema Corte a torna alvo de criminosos. Ela percebe a veracidade de suas acusações quando seu namorado e mentor é assassinado. Forçada a se tornar uma foragida em Nova Orleans, ela é ajudada por um jornalista no mistério que envolve o alto escalão do governo.
Data de lançamento: 17 de dezembro de 1993 (EUA)
Direção: Alan J. Pakula


O Júri
2003 ‧ Thriller/Drama ‧ 2h 7m
Uma viúva contrata um advogado para processar uma empresa como responsável pela morte de seu marido. Para garantir a vitória, a companhia acusada chama um especialista para selecionar os jurados, só que um membro do júri tem outros planos.
Data de lançamento: 17 de outubro de 2003 (mundial)
Direção: Gary Fleder




O Homem que Fazia Chover
1997 ‧ Filme policial/Drama ‧ 2h 33m
Um advogado recém formado trabalha em seu primeiro caso contra uma companhia de seguros que suspende o plano de saúde de uma vítima de leucemia. O profissional idealista enfrentará júris intensos e lutará a favor dos princípios morais em sua batalha contra a corrupção.
Data de lançamento: 18 de novembro de 1997 (EUA)
Direção: Francis Ford Coppola




O Cliente
1994 ‧ Mistério/Drama ‧ 1h 59m
Um menino corre risco de vida depois de acidentalmente descobrir informação vital sobre a morte de um político. Ele conta apenas com a ajuda de uma advogada que tenta protegê-lo da máfia e do FBI.
Data de lançamento: 20 de julho de 1994 (EUA)
Direção: Joel Schumacher
Edição: Robert Brown



Tempo de Matar
1996 ‧ Drama/Thriller ‧ 2h 29m
A cidade de Canton, no Mississipi, se torna um barril de pólvora quando um advogado destemido e sua assistente defendem um negro vingativo que matou o assassino branco de sua filha, incitando uma revolta de grupos racistas locais.
Data: 24 de julho de 1996 (EUA)
Direção: Joel Schumacher


quarta-feira, 19 de julho de 2017

Monomito ou Jornada do herói



Os 12 Estágios da Jornada do Herói

01. Mundo Comum – O primeiro estágio forma o ambiente normal, onde o herói vive junto a outras pessoas ,antes de iniciar sua grande aventura.

02. O Chamado da aventura – Aqui um desafio surge e acaba influenciando o herói a sair de sua zona de conforto para cumprir um problema.

03. Recusa ou Reticência – O personagem tende a recusar ou demorar a aceitar a chamada, resistindo a ‘entrar na dança’. Quase sempre é porque tem medo sente-se inseguro ou incapaz.

04. Encontro com o mentor – No quarto estágio ele se encontra com um mentor, sábio, oráculo; recebe uma ajuda divina ou sobrenatural que o motiva a aceitar a chamada, concedendo-lhe o conhecimento e a sabedoria para encarar a aventura.

05. Cruzamento do Primeiro Portal – Onde o herói imerge do mundo comum e ultrapassa um portal que leva a um mundo especial, mágico, uma outra dimensão.

06. Provações, aliados e inimigos – No sexto estágio, o personagem passa por testes, enfrenta problemas, incógnitas surgem. Nesta etapa ele também encontra aliados e enfrenta inimigos e acaba aprendendo as regras do novo mundo.

07. Aproximação – O herói vence as provações.

08. Provação difícil ou traumática – A maior dificuldade da aventura aparece, como um caso de vida ou morte. Esta é a parte mais dolorida do enredo.

09. Recompensa – O personagem escapa do fim trágico, supera o medo e adquire a fórmula mágica, a recompensa por ter aceitado o desafio.

10. O Retorno – Retorna para o mundo comum, volta ao ponto de partida.

11. Ressurreição – Outro momento decisivo na vida do personagem, mais um teste ao qual ele enfrenta o perigo, a morte e deve usar com veemência tudo que foi aprendido, inclusive a fórmula mágica.

12. Regresso com a fórmula – Volta para casa com a fórmula a fim de ajudar a todos de seu mundo comum.



A jornada do herói em 12 passos



EXEMPLO

Jornalista iraniana narra divórcio de menina de 10 anos

02/11/09 - 06h39 - Atualizado em 02/11/09 - 06h40

Jornalista iraniana narra divórcio de menina de 10 anos


Katy Seleme.

Beirute, 2 nov (EFE).- A jornalista e escritora franco-iraniana Delphine Minoui conta a história de Nojoud Ali, uma menina iemenita de 10 anos que foi a um tribunal e obteve o divórcio do marido, mais de 20 anos mais velho que ela, com a ajuda e determinação do juiz.

Em entrevista à Agência Efe, a autora explica que "Nojoud, 10 anos, divorciada" é a prova de que, apesar da permanência destas práticas, que atentam contra os direitos mais elementares da infância e das mulheres, "há esperança" para as meninas que são obrigadas a se casar.

"Apesar de seu caso ser trágico, assim como, infelizmente, da metade das meninas do Iêmen, a coragem da pequena" foi o que incentivou Minoui a escrever o livro, conta.

A menina "quebrou um tabu e foi se refugiar em um tribunal para pedir o divórcio, depois que a casaram com um homem 30 anos mais velho, que abusava sexualmente dela".

"Teve a sorte de encontrar um juiz que aceitou ouvi-la, que se comoveu com sua história e prometeu ajudá-la, advertindo, no entanto, que a vitória não era certa", conta a escritora, cujo pai é iraniano e que vive no Líbano.

Cumprindo o prometido, "o juiz se mobilizou, contratou uma advogada especialista em direitos das mulheres, que divulgou o caso à imprensa e pressionou para que Nojoud recebesse o divórcio".

"Segundo estatísticas que encontrei na Universidade de Sana (capital do Iêmen), mais da metade das meninas no Iêmen se casa antes dos 18 anos e é comum ver menores de 11, 12 ou 13 anos carregando os filhos nos braços", narra.

Segundo ela, "isso faz parte da normalidade, não só no Iêmen, mas também em países como Afeganistão, Egito e outros da região", onde muitas vezes se impõe a lei do silêncio e transforma o tema em tabu.

No entanto, afirma que "o fabuloso por trás da tragédia de Nojoud é que há esperança, porque ela ousou fazer o que nunca ninguém tinha feito antes", como conta o livro, já traduzido para mais de 20 idiomas.

Para a jornalista, as dificuldades da vida das mulheres nesta região do mundo são devido a vários fatores, "entre eles, o religioso, já que, em muitos países, as leis são inspiradas na lei islâmica, ou sharia".

"Mas é um clichê atribuir a situação da mulher apenas à religião, já que existe também o fator tribal, onde prevalece a questão da honra, principalmente nas aldeias, onde e mal visto que uma menina cresça sem se casar", explica.

"Temem que brinque com outras crianças, que seja sequestrada por um homem, que tenha relações - não necessariamente sexuais - antes do casamento, por que estas coisas sujariam a honra da família, da tribo e do bairro", afirma a jornalista.

Outro fator para explicar os casamentos com meninas menores de idade é a pobreza.

"Tomemos o caso de Nojoud. Seu pai está desempregado, casou-se duas vezes e tem 16 filhos. Para ele, casá-la é livrar-se de uma carga, é uma boca a menos para alimentar", diz.

A educação também tem papel crucial e Minoui ressalta que o fenômeno acontece no Afeganistão ou no Egito, mas não no Irã - por exemplo -, onde a mulher tem acesso à educação.

"Mais de 90% das mulheres são escolarizadas e, com isso, já conseguiram a primeira etapa para sua liberdade e emancipação", opina.

Assim, "inclusive jovens de meios tradicionais, que vão ao colégio e à universidade, aprendem a refletir e a reivindicar seus direitos".

"Sem educação e sem consciência de seus direitos, quando um pai diz à filha que esta se casará amanhã, ela não sabe que tem direito de dizer não. A mulher é submetida e vê que a mãe e as irmãs maiores tiveram o mesmo destino", conta.

Mas há pessoas que lutam ativamente contra esta prática, mas, às vezes, a um preço muito alto.

"As mulheres que trabalham nas ONG são ameaçadas de morte, são emitidas fatwas (éditos religiosos) contra elas, acusam-nas de serem manipuladas pelo Ocidente e muitas acabam por abandonar", conta.

Além disso, a jornalista fala que, muitas vezes, "as autoridades não fazem fada para que as meninas tenham acesso à educação ou aos serviços de saúde. A maioria delas dá à luz em casa e o planejamento familiar é nulo".

No entanto, "o caso de Nojoud, que apareceu na imprensa local e nas televisões, contribuiu para que as coisas comecem a mudar, mas de modo muito lento".

Depois de Nojoud, outras menores de entre 10 e 11 anos no Iêmen obtiveram o divórcio.

"Isso é encorajador. Na Arábia Saudita, uma menina era casada com um homem 50 anos mais velho, mas a mãe soube do caso de Nojoud e pediu o divórcio para a filha, e conseguiu", afirma Minoui. EFE.


AQUI

A corte, de Chaitanya Tamhane


Um funcionário do sistema de esgoto de Mumbai é encontrado morto em um bueiro e um contador de histórias é acusado de incitá-lo ao suicídio. O julgamento começa e várias pessoas são envolvidas no polêmico caso.

"Narayan Kamble é um poeta de 65 anos que é preso durante uma apresentação musical. Ele é acusado de incitação ao suicídio. Um trabalhador do sistema de esgoto é encontrado morto em um bueiro de Mumbai. Por estar sem materiais de segurança, a situação é enquadrada como suicídio. Kamble é acusado de ter feito uma apresentação perto da casa do trabalhador em que incitava que funcionários do esgoto se matassem.

A situação é inusitada e aos poucos vamos descobrindo que nem tudo aconteceu da forma como tenta passar a acusação. O longa oferece uma visão de diversas etapas do processo judicial, exibindo inúmeras sequências de julgamentos, com abertura de fala para os advogados de defesa e acusação e para o juiz.

O processo é interessante e os problemas do sistema são expostos a todo momento. É curioso descobrir códigos de conduta que são completamente absurdos para nós, como a mulher que tem seu julgamento adiado por estar usando um vestido sem manga, o que seria um desrespeito a corte. (de Luís Salgado)"

terça-feira, 18 de julho de 2017

O estrangeiro, de Albert Camus



Albert Camus (1913-1960) é um escritor francês, nascido na Argélia, no período em que ela era uma colônia da França. Filho de uma família de operários, perdeu o pai durante a Primeira Guerra Mundial, em 1914. Sua precária condição de vida e a morte prematura de seu pai foram ingredientes importantes para Camus engajar-se no Partido Comunista Francês (1934-1935). Durante esse tempo, travou íntima amizade com Jean-Paul-Sartre, um dos principais representantes do Existencialismo francês. No entanto, rompeu esse vínculo ao deixar de acreditar na necessidade de engajamento do existencialista, abandonando inclusive o partido, para seguir o viés mais radical dessa ideia, pautada pela teoria do absurdo, o Absurdismo.

O estrangeiro, romance de Albert Camus, tem como narrador-protagonista Meursault, um funcionário de escritório que assassina um árabe e é julgado por esse ato. A ação desenrola-se na Argélia na época em que ainda era colônia francesa, país onde Camus viveu grande parte da sua vida.

A narrativa começa com o recebimento de um telegrama por Mersault, o protagonista, comunicando o falecimento de sua mãe, que seria enterrada no dia seguinte. Ele viaja então ao asilo onde ela morava e comparece à cerimônia fúnebre, sem, no entanto, expressar quaisquer emoções, não sendo praticamente afetado pelo acontecimento. O romance prossegue, documentando os acontecimentos seguintes na vida de Meursault que forma uma amizade com um dos seus vizinhos, Raymond Sintès, um conhecido cafetão. Ele ajuda Raymond a se livrar de uma de suas amantes árabes. Mais tarde, os dois se confrontam com o irmão da mulher ("o árabe") em uma praia e Raymond sai ferido depois de uma briga com facas. No ponto-chave dessa obra Meursault volta à praia e mata o árabe, sem qualquer premeditação e totalmente movido por um impulso; na verdade, por causa de um delírio induzido pelo calor e pela luz forte do sol, atira uma vez no árabe causando sua morte e depois dá mais quatro tiros no corpo já morto. Diante do tribunal, após várias hipóteses e tramas construídas pela imprensa e pela promotoria para o caso. 

Durante o julgamento a acusação se concentra no fato de Meursault não conseguir ou não ter vontade de chorar no funeral da sua mãe. O homicídio do árabe é aparentemente menos importante do que o fato de Meursault ser ou não capaz de sentir remorsos; o argumento é que, se Meursault é incapaz de sentir remorsos, deve ser considerado um misantropo perigoso e consequentemente executado para prevenir que repita os seus crimes, tornando-o também num exemplo.

Quando o romance chega ao final, Meursault encontra o capelão da prisão e fica irritado com sua insistência para que ele se volte a Deus. A história chega ao fim com Meursault reconhecendo a indiferença do universo em relação à humanidade.





TRECHOS


“Afinal existia uma ridícula desproporção entre o julgamento que a fundamentara e o seu imperturbável desenrolar a partir do instante em que este julgamento fora pronunciado. O fato de a sentença ter sido lida não às cinco da tarde, mas às oito horas da noite, o fato de que poderia ter sido outra, completamente diferente, de que fora determinada por homens que trocam de roupa e que fora dada em nome de uma noção tão imprecisas quanto o povo francês (ou alemão ou chinês), tudo isto me parecia tirar muito da seriedade desta decisão. Era obrigado a reconhecer, no entanto, que a partir do instante em que fora tomada os seus efeitos se tornavam tão certos, tão sérios...”

(...)

"Sentia-me agora outra vez calmo. Estava estafado e deixei-me cair sobre a cama. Julgo que dormi, pois acordei com estrelas por sobre a minha cabeça. Subiam até mim ruídos do campo. Cheiros da noite da terra e do sol refrescavam-me as fontes. A paz maravilhosa deste verão adormecido entrava em mim como uma maré. Neste momento, e no limite da noite, soaram apitos. Anunciavam possivelmente partidas para um mundo que me era para sempre indiferente. Pela primeira vez, há muito tempo, pensei na minha mãe. Julguei ter compreendido porque é que, no fim de uma vida, arranjara um "noivo", porque é que fingira recomeçar. Também lá, em redor desse asilo onde as vidas se apagavam, a noite era como uma treva melancólica. Tão perto da morte, a minha mãe deve ter-se sentido libertada e pronta a tudo reviver. Ninguém, ninguém tinha o direito de chorar sobre ela. Também eu me sinto pronto a tudo reviver. Como se esta grande cólera me tivesse limpo do mal, esvaziado da esperança, diante desta noite carregada de sinais e de estrelas, eu abria-me pela primeira vez à terna indiferença do mundo. Por o sentir tão parecido comigo, tão fraternal, senti que fora feliz e que ainda o era. Para que tudo ficasse consumado, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muito público no dia da minha execução e que os espectadores me recebessem com gritos de ódio."


O estrangeiro em PDF.


ARTIGOS ANALÍTICOS


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