domingo, 16 de julho de 2017

Justiça no tarô e seu sentido místico

VIII. A Justiça
O arcano do Equilíbrio, da Imparcialidade
 
Compilação de 
Constantino K. Riemma





A Justiça no Tarot de Marselha-Camoin
Tarô Marselha-Camoin
(1750)
 
Uma mulher sentada num trono tem em sua mão direita uma espada desembainhada com a ponta virada para cima; na esquerda, uma balança com os pratos em equilíbrio. A mão que segura a balança encontra-se à altura do coração.

Esta figura vista de frente veste-se com uma túnica cujo panejamento sugere uma mandorla (figura geométrica em forma de amêndoa; veja arcano 21 – O Mundo), espaço de conciliação das polaridades.




Não se veem os pés da mulher nem a cadeira propriamente dita. Aparece, em compensação, com toda nitidez, o espaldar do trono: as esferas que o arrematam estão talhadas de maneira diferente.

Significados simbólicos

Justiça, equilíbrio, ordem.
Capacidade de julgamento.

Conciliação entre o ideal e o possível. Harmonia. Objetividade, regularidade, método.
Balança, avaliação, atração e repulsão, vida e temor, promessa e ameaça.
Interpretações usuais na cartomancia

Estabilidade, ordem, persistência, normalidade. Lei, disciplina, lógica, coordenação. Flexibilidade, adaptação às necessidades. Opiniões moderadas. Razão, sentido prático. Administração, economia. Obediência.

Soluções boas e justas; equilíbrio, correção, abandono de velhos hábitos.

Mental: Clareza de juízo. Conselhos que permitem avaliar com justeza. Autoridade para apreciar cada coisa no momento oportuno.
Emocional: Aridez, secura, consideração estrita do que se diz, possibilidade de cortar os vínculos afetivos, divórcio, separação. Este arcano representa um princípio de rigor.
Físico: Processo, reabilitação, prestação de contas. Equilíbrio de saúde, mas com tendência a problemas decorrentes de excessos (obesidade, apoplexia), devido à imobilidade da carta.
Desafios e sombra: Perda. Injustiça. Condenação injusta, processo com castigo. Grande desordem, perigo de ser vítima de vigaristas. Aburguesamento.


É interessante também analisar a correspondência simbólica entre a Justiça (8) e o Imperador (4), já que há uma aliança evidente entre os princípios de Poder e Lei e a busca da harmonia do governo (de um Estado, de uma situação, da individualidade). Vale lembrar a esse respeito que, tradicionalmente, cabe ao soberano a aplicação da justiça.

Na mitologia grega, Zeus gera em Têmis (a fraternal divindade justiceira do Olimpo), entre outras filhas, as Horas ou Quatro Estações, e Diké (ou Diqué), a personificação da Justiça. Essa filiação permite relacionar o Arcano VIII à ordem do quaternário, detalhe que já se evidencia a partir de seu número (8 = 2 x 4).

História e iconografia
Gerechtigkeit. Representação medieval da Justiça
Bamberg (1237)
 
A representação da Justiça como uma mulher com balança e espada (ou livro) data provavelmente de um período remoto da arte romana. Durante a primeira parte da Idade Média, espada e balança passaram a ser atributos do Arcanjo Miguel, comumente designado por Micael ou São Miguel, que parece ter herdado as funções do Osíris subterrâneo, o pesador de almas.



Mais tarde estes elementos passam para as mãos da impassível dama, da qual há figurações relativamente antigas na arte medieval: um alto-relevo da catedral de Bamberg, datado de 1237, a representa deste modo.

Tudo indica que a iconografia do Arcano VIII seguiu com bastante fidelidade a tradição artística.

A espada e a balança são, para Aristóteles, os elementos representativos da justiça: a primeira porque se refere à sua capacidade distributiva; a segunda, à sua missão equilibradora. Ao contrário das alegorias inspiradas na Têmis grega, a Justiça do Tarô não tem venda sobre os olhos.

É comum relacionar este arcano ao signo zodiacal de Libra. Ele representa, como aquele, nem tanto a justiça exterior ou a legalidade social, mas sim a função interior justiceira que põe em movimento todo um processo psíquico (ou psicossomático) para determinar o castigo do culpado, partindo já da ideia de que “a culpa não é, em si, diferente do castigo”.

Também se atribui à balança uma função distributiva entre bem e mal, e a expressão do princípio de equilíbrio. A espada, por sua vez, representa a sentença, a decisão psíquica, a palavra de Deus.





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