terça-feira, 18 de julho de 2017

O santo inquérito, de Dias Gomes


A obra de Dias Gomes, “O Santo Inquérito”, uma peça brasileira moderna, por suas intenções artísticas, por suas preocupações sociais e seu engajamento político, foi escrita e encenada pela primeira vez em 1966. Escrita e encenada no auge da ditadura, Gomes usa o Tribunal do Santo Ofício como metáfora para o momento histórico que o país atravessava. Ele fala de todo sistema opressor (e oligárquico) que tenta se manter no poder e não se furta a desvirtuar o sentido da justiça para atender preconceitos, determinada moralidade religiosa e/ou seus próprios interesses.


O espetáculo conta a história de Branca Dias, uma heroína pura e libertária, vítima da Inquisição e uma espécie de Joana D’arc cabocla, que viveu na Paraíba em 1750. Ela, uma cristã nova, letrada, filha de Simão Dias e noiva de Augusto Coutinho, vê sua vida mudar após cometer um ato que aos seus olhos julgava ser de extrema bondade. Ao salvar Padre Bernardo (vivido por Renato Krueger) de um afogamento, aproxima-se do mesmo passando a tê-lo como confessor e amigo. Porém, Padre Bernardo não consegue vê-la da mesma forma. Após o dito salvamento, no qual Branca precisou realizar uma respiração boca-a-boca para manter a vida do padre, ele passa a vê-la como uma espécie de tentação, vindo assim a apaixonar-se pela moça. Dizendo-se norteado pelo sentimento de salvação de Branca, busca guiá-la nos ensinamentos cristãos, tentando assim desconstruir toda a concepção que Branca já tinha sobre a existência divina e a religião.
O amor por Branca, o ciúme e as confissões inocentes sobre a descendência de sua família levam Padre Bernardo a denunciá-la ao Tribunal da Inquisição. Tal ato culmina nas prisões de Branca, Simão e Augusto.

Através de uma investigação dita minuciosa realizada pelo Visitador do Santo Ofício e pelo Guarda ambos com adoção de métodos duvidosos de persuasão, a vida dessas personagens tomam novos caminhos. Após descobrir que seu pai abjurou e confessou pecados inexistentes, apenas com o intuito de salvar a própria pele, e que o mesmo não tomou qualquer atitude para evitar a morte de Augusto, Branca recusa aos pedidos de Simão para que ela também abjure, pois após a morte de seu noivo, ela toma para si um ensinamento do próprio: “Há um mínimo de dignidade que o homem não pode negociar. Nem mesmo em troca da liberdade, nem mesmo em troca do sol”. Com isso, resta apenas a Branca a condenação, sendo levada assim a fogueira.





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